Falemos da Rio-92, com algum atraso, é bem verdade. Se as memórias pessoais nos traem, que dizer de um então de estudante do primário numa escola particular de Florianópolis (Santa Catarina, Brasil)? Do que guardei, o que não foi muita coisa, ficaram as impressões de um tempo no qual o meio ambiente se tornou muito mais do que uma mera palavra para todos nós desta espaçonave Terra. Além disso, lembro-me de que muito se falou sobre a segurança no Rio de Janeiro, cuja sensação de tranquilidade para os cariocas foi ampliada com a ida do exército para as ruas da cidade. E isto é tudo que tenho a dizer sobre isso.
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Duas décadas depois, o Rio de Janeiro e o mundo também se encontram num momento tão peculiar e transitório como nos parecia o início dos anos 1990. Se no final do século passado tínhamos o fim das dicotomias ideológicas a favor do capitalismo, com a derrocada dos soviéticos, a recente unificação alemã e todos aqueles outros capítulos dos livros de história, hoje a situação é tão diferente quanto parecida. Logo, o que se discute agora é, mais uma vez, o fim do capitalismo (como o crash de 1929, as crises do petróleo a partir dos anos 1950, etc, etc). Basta pegar um avião ou mesmo um transatlântico e lá estaremos na Europa fragilizada por uma moeda que lhes pregou uma peça tragicômica. Não por acaso, os próprios gregos, que formataram os conceitos básicos de comédia e tragédia, acabaram por revelar ao mundo que a globalização já não é uma ideia romântica como em outrora. A partir de 2010, com o anúncio da dívida pública grega, chegamos novamente num dos recomeços inevitáveis do capital e já não temos mais Karl Marx para melhorar suas observações e nem temos mais os Irmãos Marx para nos fazer rir dessa piada contemporânea. E nesta urbe que ninou a bossa nova, há uma esperança por mudanças críticas, com as obras que visam tornar a cidade mais apresentável, por assim dizer, para os Jogos Olímpicos de 2016 e, ainda, para os jogos da Copa do Mundo de 2014 no Maracanã (que não se repita a final de 1930, com o Uruguai acabando com a festa dos brasileiros, por obséquio). Há também as chamadas pacificações, que tentam diminuir consideravelmente a presença do crime organizado, com alguma ênfase nas comunidades mais carentes, onde por muitos anos o Estado tapou os dois olhos com uma venda de seda preta. Mas a violência, como a globalização, é um elemento inevitável da desorganização social e, como o capitalismo mais do que necessita da desordem (classes sociais, lucros exagerados, especulações sem sentido), parece-nos útil que, enfim, a venda seja retirada e a seda que a originou seja produzida através de indústrias limpas, de tecnologias sociais geridas pelo empoderamento da comunidade.
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Com toda esta bagunça política, econômica e cultural que o século XX nos legou, chega a soar anárquico olhar para o funcionamento da internet por estes dias. A rede que mobiliza tudo e a todos, apresenta-se como o local ideal para compartilhar uma nova sociedade, com paradigmas muito mais condizentes ao pensamento norteador daquela Rio-92 e desta Rio+20: o desenvolvimento sustentável. Daquele garoto que assistiu a tudo pelos filtros parciais da televisão aos dias atuais, quando, então, tenho a oportunidade de participar presencialmente destas discussões ambientais (o meio ambiente como um ambiente inteiro, porque engloba tudo), creio que algumas coisas mudaram e outras continuam as mesmas, como não poderia deixar de ser. O que me intriga atualmente é descobrir o que está diferente e o que não está. Não será no Rio, em Florianópolis, ou na Europa que terei uma resposta para estes meus questionamentos quase pueris, mas fica claro que em qualquer lugar da nossa espaçonave podemos pensar, falar, dizer, ocupar, brigar, xingar e fazer alguma coisa para que esta zorra toda fique, de pouquinho em pouquinho, mais divertida e menos desigual.
> Rio de Janeiro/RJ, 14 de Junho de 2012.