Uma crônica sobre o jogo Chelsea vs Barcelona, de 18/04/2012
Quando assistimos a um jogo feito este Chelsea vs Barcelona pela Liga dos Campeões da Europa, damos com a certeza de que o esporte é um microcosmo das pessoas, da sociedade e do que compreendemos por cultura. Por ser um esporte coletivo, essa impressão social é ainda mais presente no futebol, atraindo apaixonados em todo o mundo, tornando as pessoas até um pouco mais irracionais (quando a violência aparece dentro e fora de campo) e proporcionando ao capitalismo seu sucesso ideológico mais inesperado.
São posicionamentos distintos o que percebemos nas equipes, uma inglesa e a outra espanhola. Enquanto esta, o Barcelona, é aclamado mundialmente como o clube com o melhor acerto técnico entre os jogadores, aquela, o Chelsea, tem sua eficiência reduzida no comparativo, mas joga contando com o inesperado, pois toda narrativa só se faz em linha reta nas aparências. Destarte que, qual dois empreendimentos capitalistas, temos lá a Grande Rede Varejista Barcelona que tem seus consumidores cativos, mas que, nalguns momentos, padece das variações de mercado (os próprios jogadores, o adversário em questão, o palco da batalha). Já a Empresa Emergente Chelsea tem, inegavelmente, qualidades que a fizeram estar ali entre as grandes, mas sabe que precisa se estruturar ainda mais para conseguir o selo de certificação – e contar com alguma falha dos grandes. E o inesperado surge rápido feito um contra-ataque, justamente no último minuto do primeiro tempo. Num erro de posicionamento, a qualidade técnica do Barcelona é suplantada pela agilidade (e até mesmo uma capacidade de adaptação – coisa assim meio darwiniana) do Chelsea, abrindo o placar da partida com o chute certeiro do Drogba.
Como nos países ricos que importam o melhor dos outros países, assim também acontece com os clubes de futebol, principalmente as equipes da Europa que possuem grandes investidores. Não por acaso, o bilionário russo Roman Arkadyevich Abramovich é dono do Chelsea e o Barcelona possui o maior patrocínio da história do futebol através da Qatar Foundation. Com tanto dinheiro, fica mais fácil comprar o passe de jogadores talentosos, o que já é uma constante dos clubes europeus há algumas décadas. O fato do único gol da partida ter sido oriundo de um lançamento do inglês Lampard para o brasileiro Ramires, que presenteou o marfinense Drogba na cara do gol, indica não apenas uma óbvia globalização do esporte (e de todo o resto), mas ainda sugere que os sistemas (o esporte, a economia, a política, o capitalismo…) são tão contraditórios quanto imprescindíveis para serem validados pelas pessoas. De que outro modo uma organização tão poderosa quanto Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) cresceria a tal ponto de um Estado soberano, como parece ser o Brasil, direcionar suas atenções para um evento esportivo que dura pouco mais de um mês, caso da Copa do Mundo de 2014? A FIFA chega a ter mais associados que a Organização das Nações Unidas (ONU), para se ter uma ideia da relevância desta celebração futebolística que é realizada a cada quatro anos. E já estamos sentindo o impacto das ações voltadas à realização da Copa, com estádios superfaturados, operações que visam diminuir a violência nas grandes cidades, os interesses políticos e econômicos que gastam tempo a indagar se os torcedores poderão ou não beber cerveja nos estádios quando dos jogos entre nações, entre outras situações dignas de suas próprias crônicas.
Se o melhor time do mundo atualmente perde um jogo como neste Chelsea 1 x 0 Barcelona, podemos questionar as unanimidades construídas culturalmente até o ponto em que nós mesmos entraremos em campo e, assim, faremos algo a respeito, seja lá o que for.
> Não temos fotos da partida, pois o enviado internacional do Sarcástico na Europa foi confundido com um hooligan e deportado para o Brasil.
> Florianópolis/SC, 18 de Abril de 2012.