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Projeto de governo

Brasil, 2021. Quando um projeto de governo insiste na destruição? Agora. Hipérboles deixaram de causar alarde. O mertiolate arde na ferida. As pústulas expostas dos antiapóstolos. Um evangelho abençoado pelo capital. Insinuações neoliberais numa dança assexuada, embalada pelo dissenso coletivo. Ataques sem drones. Florestas queimadas; lagos secos; lençóis freáticos já não protegem ninguém. Cobertor curto? Banqueiros puxam daqui, bolseiros puxam de lá: não importam as direções se os sentidos são os mesmos. A eterna privação do adversário sem defeito. Corrupção, erupção cutânea, prospecção mineral. O preço do petróleo vinculado à especulação do mercado externo. O frentista leva a culpa. “Confere o óleo e a água, por favor”. Motor superaquecido, mercado desabastecido. Mais uma greve de caminhoneiros na outra ponta da luneta. Energia renovável de base hidráulica privatizada. Hierarquia de usos; mais valia social. A carteira de títulos da dívida pública parece um menu de restaurante. Fome. “Coma as beiradas porque só sobraram as beiradas mesmo”. Cálculos nos rins – as contas não fecham. As turmas do fundão e do centrão gritam: “fascistas!”. As líderes de torcida fazem uma coreografia pró-União Soviética. Os negócios na China não param de dar lucro. Planejamento de longo prazo, planos quinquenais, olhos puxados e atentos. Bajuladores medíocres usam da conveniência para enaltecer seus ídolos. O juiz se mudou para outro país sem jamais ter sentado na cadeira da Suprema Corte. Heróis de capa e espada ou antagonistas cooptados? Jogue a moeda para cima como faz o Duas-Caras. Aquele uniforme preto não pertence ao Batman. O verde-louro da flâmula assumiu um tom degradê, degradado pelo mau uso das forças desalmadas. Um capitão expulso num mato sem cachorro, gato ou lobo. A onça pintada numa tela de algodão. Políticos com projetos de governo – uma espécie em extinção. Hunther S. Thompson continua escrevendo seu novo diário com rum e curtidas no Facebook. Medo e delírio em qualquer lugar. Recorde de visualizações em menos de 24 horas. No meio do caminho, uma pandemia-pedra. A família toda sente falta da prima que morreu em decorrência da Covid-19. A matéria-prima abunda, o consumo das famílias inadimplentes diminui. A última década registrou o mais pífio crescimento econômico na história da República. A moral da história tem fé, mas não tem religião. Estado laico. Governo arcaico. A solução é política e apenas política. O vizinho está com o rádio ligado. Adoniran Barbosa canta em Si Menor. Ciência e paciência, Iracema! “Paciência, sim, mas sem passividade”, acrescento aos versos do poeta!

Projeto de país

Brasil, 2020. Que projeto de país, que nada. Disrupção. Disritmia. Um pouco de nada e outro tanto de tudo. Pandemia pede passagem. O presidente qual agente do caos. Nem por hoje, tampouco por amanhã. E o que há de sobrar nesse mar de infâmia? Naufragados, degredados, apóstatas sem eira nem beira! Nenhum estado pode dar conta de tanta religião. Fé demais não cheira bem, como o cacófato que exala a falta de pudores. Seres pudorentos no arremedo de um falso Messias! Tamanha ablução; cem razões de ser. Mil e uma utilidades. Entre corrupções e rachadinhas, a fila anda. Aleatória, qual o voo de uma borboleta bêbada. Extrema, feito o bater de asas do beija-flor. A erva daninha machuca a si mesma. Que malícia! Quanta milícia! Tem quem sorva do cálice sagrado, mesmo sem saber se é cachaça ou refrigerante de cola. Coca-Cola é isso aí. Um golinho para o santo e outro para o anjo caído na terra do sol. Abaixo do Equador, todos sorrimos amarelo apesar do creme dental. Satisfação em substâncias que se untam antes de adentrar ao forno. Temperatura? Ok! Duração? Confirmada. Vai dourar as bordas ou torrar tudo de uma só vez? Ninguém sabe ao certo. Há aqueles que recomendam medicamentos via retal. Outros, banhos de sal. Aos negacionistas, qualquer remédio vendido na esquina. Até mesmo hidroxocloroquina. Numa ou noutra etapa do tratamento, o efeito placebo de pura magia. Parecido com o capitalismo financeiro: capital fictício de verdade que se reproduz na bruxaria de uma agência bancária. Dinheiro que gera dinheiro sem mercadoria. Comes e bebes. Nos edifícios mais altos, drinks com champanhe importado. As exportações, afinal, sempre deram conta de manter a colônia em dia. Consumo de insumos. Ao norte e ao oeste, veredas abertas no coração de uma floresta em chamas. Bombeiros que se armam. Bombinhas que se amam. A educação no final da festa dentro de uma sala de aula vazia. Realocação de recursos. Tudo por causa da família, da propriedade privada, da moral e dos bons costumes. Cidadãos de bens. De muitos bens, imóveis e aplicações financeiras. Alguém pode me dizer qual o Dow Jones Industrial Average? Exploradas, as crianças não têm por onde! Sujeitinho de segunda classe esperando uma bolsa qualquer, uma renda mínima que seja. A sociedade se penteia no espelho quebrado. Projeto de país? A questão fundamental continua sem resposta.

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