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Bloco dos Sujos 2013

É Carnaval e o SARCASTiCOcomBR não poderia ficar de fora da folia!
Não sem antes deixar algumas lembrancinhas…

blocodossujos2013_ascarel2Para saber mais sobre os homenageados: a Colombina, o Arlequim, os Mil Palhaços. A fotografia usada na montagem foi capturada neste blog.

“Quanto riso, ah, quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
O Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão”
Máscara Negra, Zé Keti

Petição contra o projeto de Lei para proteger professores e clérigos de processos por injúria e difamação

Assine a petição contra o Projeto de Lei 4500/2012, do Deputado Victório Galli (PMDB/MT) que propõem proteger professores e clérigos de processos por injúria e difamação.

IV CarnavalSofia! De 8 a 12 de Fevereiro em Araranguá (SC)

O CarnavalSofia é um encontro de pessoas interessadas na troca de conhecimentos, geralmente de cunho filosófico, mas que também pode ser político, antropológico, social, ecológico ou artístico.

A 4ª Edição do CarnavalSofia contará com oficinas de rádio livre e o debate de uma série de 5 filmes anti-autoritários com a presença de Vertov, do Centro de Inovação Social de Floripa.

Todos os eventos são gratuitos. Programação e locais: http://reinehr.org/efervescencias/eventos-culturais/iv-carnavalsofia-08-a-12-de-fevereiro-de-2013-uma-folia-para-pensar-e-agir

Evento no Facebook: http://www.facebook.com/events/446130568787145/446145032119032/

Catastrófico tudo

Entre mortos e feridos, de concreto sobram apenas as paredes que sustentam o caos e a miséria. Se nem tudo é engraçado e se não podemos nos dar ao luxo (qual Balzac teria feito) em chamar a realidade de “a comédia humana”, preferimos um caminho mais sensato, coerente e contextualizado. Um dos males da mídia – além de ter se tornado multimídia – está na exploração de superfícies que não lhe dizem respeito. E é o que acontece, também e novamente, com esta tragédia que ocorreu na cidade de Santa Maria (RS), no último domingo, 27/12/2013.

Deus, a ciência ou outro ponto de vista teve alguma influência sobre estes acontecimentos, pois permitiu a todos nós o direito das múltiplas possibilidades. Há, na mesma medida, uma enorme e esplendorosa capacidade para sermos sábios ou burros. Olhando pela janela, ou lendo um jornal (ou um blog) parece que a burrice é uma possibilidade mais fácil, porque requer menos esforço, apesar do alto custo que sempre aparece a posteriori. Inescapável asneira se dá na mídia ao cogitar ser um poder – o quarto, dizem uns mais abobados – que lhes escapa desde a sua origem. Mas é tênue a linha entre a justiça e a opinião. Dotados somos todos de opinar, já a competência de julgar escapa-nos em grande escala: do repórter que pergunta como a mãe que perdeu a filha está se sentindo ao juiz do Supremo que entende a lei à maneira que lhe convém.

Em tempos de guerra, morrem os novos. Em tempos de paz, os velhos. A guerra travada na boate Kiss em Santa Maria não contou com a presença de fuzis ou soldados. Mas como num exército, a maioria dos presentes era jovem. Numa contagem de mortos que parece não estancar (mais de 230 pessoas até o momento em que este texto era escrito) está quantificada o custo de uma guerra que acontece com a mídia, e não apesar dela. Jornais impressos ou virtuais, programas de rádio ou de televisão expõe as falhas que levaram ao incêndio acidental.

“Tragédia anunciada”, pregam os especialistas

Um sinalizador é apontado como o estopim, mas os problemas como que existiam desde sempre. E este é o ponto cego, seja para a política, para a polícia ou para a imprensa. As leis que não se cumprem, qual o alvará negado que deveria ter impedido a boate de funcionar, arrastam consigo a distopia presente do “catastrófico tudo”. Nem adianta correr ou chorar, porque as tragédias estão anunciadas muito antes das previsões que Nostradamus viu em sua bacia.

A boate Kiss (Beijo, em inglês) é o cenário dessa destruição definitiva. O julgamento final, como diz a Bíblia (religião e punição) ou como o James Cameron indicou em O Exterminador do Futuro 1 e 2 (tecnologia e auto-aniquilação). O Beijo da Morte não poderia ter escolhido palco mais trágico: uma festa reunindo universitários e outros jovens em busca diversão. Mas o domingo também era um dia do catastrófico tudo. Diversão versus segurança. Paz versus Guerra.

A absolvição, como em outras tragédias deste porte, não virá de modo reconfortante. A justiça não restitui determinadas perdas – equação visível na catástrofe das vítimas no trânsito, dos violentados em roubos, sequestros, espancamentos, das mortes em conflitos armados, dos que padecem de fome, doença… é este catastrófico tudo invisível para uma imprensa que não se cansa de dizer, escrever, noticiar mais do mesmo.

 > São José/SC, 28/01/2013.

Quando os fundamentalistas saem do armário

Pequenos grupos de homens engravatados, empunhando estandartes e gaitas de fole circulam pelo Brasil no que chamam de “Cruzada pela Família”. Nestas cruzadas, eles literalmente marcham pelas ruas centrais das cidades para, a cada esquina, através de um megafone antigo, bradar frases como “contra o avanço sorrateiro do homossexualismo no mundo inteiro”.

No dia 23 de Janeiro foi a vez de Florianópolis ser agraciada com o desfile da idade média promovido pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO), uma associação sediada no bairro paulista Higienópolis, cuja principal função é difundir as lições de Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da Sociedade Brasileira de Defesa de Tradição, Família e Propriedade –TFP.

A missão de vida de Plínio era a “dedicação abnegada em defesa da Civilização Cristã”. O problema é que o que quer que seus seguidores entendam por “Civilização Cristã”, precisa coexistir no mesmo espaço que outros agrupamentos humanos, com outros valores e outras visões de mundo. Esta coexistência implica em uma série de acordos e o exercício cotidiano da tolerância, o que para “pessoas abnegadas” geralmente é um problema.

A dificuldade em lidar com a divergência e a necessidade de impor a própria visão sobre os outros estão entre as características principais dos fundamentalistas. Quando se promove ações para que valores baseados na religião de um grupo se sobreponha à carta magna do país, na qual está registrada a constituição de um Estado Laico, é de fundamentalismo que estamos falando.

Além de desfiles vintage-integralistas, a IPCO promove uma campanha contra a aprovação da PLC 122/2006, um Projeto de Lei de criminalização da homofobia no país. Um dos argumentos dos representantes do IPCO é o de que, caso a Lei seja aprovada, eles não poderão expressar livremente as suas ideias, já que consideram a homossexualidade um pecado. A sustentação desta tese é duvidosa, uma vez que a PLC 122 inclui a homofobia no mesmo parágrafo no qual já é crime o racismo e a descriminação por gênero, idade, procedência e religião na legislação brasileira, o que, segundo a lógica dos fundamentalistas, faria com que alguns comediantes de stand-up, que fazem piadas na linha “preto, viado, judeu e pobre,” estivessem presos há muito tempo.

O limite entre a liberdade de expressão e o delito de opinião é um debate formidável e renderia mais horas e laudas do que já rendeu. O fato é que o argumento citado é um dos pouquíssimos que fogem ao mantra “segundo a bíblia, é pecado” do IPCO, TFP e tantas outras agremiações que usam a Bíblia como um manual existencial. “A subordinação da política à moral, implica pois, numa subordinação da política à Religião” são as palavras de Plinio Corrêa. O “pecado” é o principal motivo para os ataques à descriminalização do aborto e ao casamento gay, duas questões que só deveriam dizer respeito às pessoas envolvidas.

Em contraponto às Cruzadas pela Família, ativistas libertários e movimentos sociais como o GLBTT, Direitos Humanos e Feminista têm se organizado para promover paralelamente aos atos da IPCO, manifestações a favor dos direitos das mulheres, união homoafetiva, Estado Laico e liberdade de expressão. Em Florianópolis não foi diferente.

Enquanto cerca de 20 homens da IPCO discursavam que “casamento é só entre homem e a mulher” e tentavam distribuir seus livros e panfletos entre os transeuntes que não pareciam entender bem se aquela movimentação era um protesto ou uma banda escocesa, manifestantes libertários cantavam “Ô Plínio! Que papelão! Nós não queremos outra inquisição!”.

Amedrontado com as cores berrantes dos agentes da ditadura gay, o coordenador da marcha procura um policial e conversa por alguns minutos. Logo após, o que deveria ser um servidor público vai até os libertários e pede que eles se “manifestem em outro lugar”, o que não é acatado, já que a rua é pública. O detalhe é que, segundo a Lei 13.628/2009 de Florianópolis,  a cidade “reconhece o respeito à igual dignidade da pessoa humana em todos os seus direitos, devendo para tanto promover sua integração e reprimir os atos atentatórios a esta dignidade, especialmente toda forma de discriminação fundada na orientação, práticas, manifestação, identidade e preferências sexuais exercidas dentro dos limites da liberdade de cada um e sem prejuízos a terceiros”. Ou seja, a homofobia já é crime na capital catarinense.

O restante do dia foi marcado pela tentativa de desvencilhamento da cruzada engravatada dos seus perseguidores coloridos. No auge de sua irritação, os membros da IPCO, chegaram a acusar os manifestantes de “Cristianofobia”. Esta ideia, de que os defensores do cristianismo sofrem bullying de pessoas que querem apenas ter o direito de decidir sobre a própria vida, chega a ser irônica, ainda mais vinda de um grupo que possui como herança séculos de tortura e manipulação. Os números falam por si, sobre quem oprime quem: Centenas de homossexuais são assassinados no país todos os anos. Só em São Paulo, 70% já sofreram agressões. São 200 mil mulheres mortas por ano por causa de abortos inseguros no Brasil.

O aspecto positivo de acontecimentos como as cruzadas (além das gaitas de fole), é que uma parte significativa destes indivíduos está finalmente saindo do armário. Do estímulo provocado pelo humor ginasial veiculado todos os dias na TV ao avanço do fundamentalismo religioso no Estado, rebanhos de todos as pelagens enfrentam a vergonha alheia e decidem expor suas posições publicamente. Por mais nonsenses e preconceituosas que elas possam parecer.

Passeatas minúsculas pela moral e os bons costumes e discursos inflamados em palanques públicos não são o problema. O grau de liberdade em uma sociedade se dá na medida em que o debate franco de ideias completamente opostas é feito publicamente sem consequências na epiderme de um dos lados. O problema é o repertório cultural oferecido pela mídia e a formação limitada que a educação pública dispõe. A população não está instrumentalizada suficientemente para lidar com a potência obscurantista presente no Brasil desde a sua fundação.

Enquanto uns promovem atos caricaturais nas ruas, outros vão até a casa das famílias dar caronas para pré-adolescentes participarem de cultos inocentes com bandas de música e tardes de brincadeiras. Em pouco tempo estas tardes idílicas se tornam fins de semana de pregação, e, quando as famílias percebem, os jovens já não se comunicam da mesma forma, pois foram instruídos pelos pastores a não falar o que acontece nestes círculos aos próprios pais.

Por trás de todo fundamentalismo existe um oportunista. É importante reafirmar posições, só que mais do que os seguidores, a atenção deve ser voltada aos pastores, dirigentes e, principalmente, às eminências pardas, pois são elas que lucram com as massas de manobras e trabalhadores escravos preparados desde a juventude.

Temos muitos armários para abrir ainda.

OUTRAS INFORMAÇÕES

Matérias e fotos do Centro de Mídia Independente
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2013/01/515776.shtml
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2013/01/515806.shtml

Manifesto Coletivo de Alerta Anti-Homofóbico http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2013/01/515825.shtm

Vídeos
http://youtu.be/vQ3cSQN3-_I
http://youtu.be/oOgWg69QQXI

Sobre a PLC 122/2006
Texto: http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=79604
Site de militantes: http://www.plc122.com.br

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